“Não é possível vincular salário a ganho de produtividade para fins de negociação”, diz economista
Em conceder o aumento real reivindicado pelos professores, de 3% acima da inflação (INPC), que é 5,47%.
Comunicação Sinpro/RS
Campanha salarial | Publicado em 16/03/2012
Na primeira rodada de negociações entre Sinpro/RS e Sinepe/RS, na Câmara Setorial da Educação Superior, representantes do Sinepe alegaram dificuldade em conceder o aumento real reivindicado pelos professores, de 3% acima da inflação (INPC), que é 5,47%. Para eles, o aumento de salário deveria corresponder ao ganho de produtividade das instituições. O argumento é o mesmo utilizado pelos setores industriais e causou estranheza entre os representantes dos professores. A assessoria de imprensa do Sinpro/RS entrevistou o economista do Dieese para o site do Sindicato, Ricardo Franzoi sobre o tema e ele alertou tratar-se de uma estratégia para fugir do debate.
Extra Extra – Quando falamos em setor de educação é possível vincular um conceito como o de ganho de produtividade, proveniente do setor industrial e comercial, para indexar os salários dos trabalhadores em educação?
Ricardo Franzoi – O que existe é uma contradição. Os sindicatos estão querendo vender o uso de sua força de trabalho pelo maior valor possível e os empregadores estão pretendendo comprar essa força de trabalho pelo menor valor possível. Essa discussão da produtividade é contraditória porque ela é difícil de medir mesmo na indústria. Existe uma medição neste sentido, mas de produtividade média, se levarmos a rigor este conceito e logo veremos que existe uma produtividade diferenciada em cada indústria e dentro da indústria existem produtividades diferentes para cada setor. O que está na verdade por trás dessa discussão é que não é possível medir produtividade para fins de negociação, principalmente no setor de educação.
EE – Então, qual o interesse do empregador com isso?
Franzoi – Dificultar a negociação. Além disso, é uma forma fugir da discussão real que é a essência do debate, que é a valorização da força de trabalho. Os empregadores usam isso para eleger argumentos para não dar aumento. Na hora que o sindicato diz, “então vamos medir a produtividade dos últimos dez anos pra ver como evoluiu”, a resposta dos patrões vai ser um grande silêncio ou vão rebater que é “difícil”, porque cada caso é um caso. No setor de educação não estamos falando de máquinas, mas de vários fatores que vão influenciar no êxito no desempenho de um setor. O que eles pretendem é dizer, é que só podem aumentar salários baseados na produtividade, mas como não é possível medir a produtividade, não seria possível dar aumento.
EE – Outros setores estão usando esta mesma alegação?
Franzoi – Sim, aliás, essa prática provém dos setores industriais e que certamente estão influenciando os dirigentes das instituições de ensino em suas alegações. Tudo isso por conta de que estamos vivendo um momento da economia brasileira que é privilegiado, um momento em que o ambiente econômico é favorável aos ganhos salariais. Nós nunca tivemos uma situação tão positiva como essa e que permanecerá pelos próximos 15 ou 20 anos. Este é o momento de resolver os problemas estruturais históricos da sociedade brasileira, que são os desequilíbrios regionais e a péssima distribuição de renda. E os estudos do Dieese mostram que o setor educacional tem acompanhado este crescimento e se beneficiado dele.
EE – Então qual a dificuldade dos empregadores em conceder os aumentos?
Franzoi – O que existe é uma luta entre lucro e salário. A inflação está controlada, portanto não existe mais aquele mecanismo, que era uma ilusão monetária, de quando se dava aumento este aumento já havia sido retirado pela inflação. Qualquer aumento de salário, significa uma redução no lucro das empresas. Todos os setores estão crescendo e todos estão concedendo aumentos: indústria, comércio, serviços.
EE – Quando essas instituições de ensino assumem o discurso do setor industrial e comercial, de certa forma também não estariam assumindo uma postura mais empresarial?
Franzoi – Indústria não se compara com educação. Os empregadores do setor de educação, quando dizem isso, estão forçando a barra. Na indústria a mercadoria que se compra e vende são insumos. No caso da educação, estamos falando de conhecimento. Não dá para medir. Não dá para confundir saco de batata com professor. E mesmo na indústria, essa questão quando posta é como subterfúgio para manter os lucros elevados sem dar aumento.