“Queremos um Ensino Médio integral e em tempo integral”, afirma coordenadora do MEC

Mas como aumentar a jornada sem repetir a fórmula giz e lousa, da qual os alunos já evadem e, ao mesmo tempo, prepará-los para o mercado de trabalho?

Comunicação Sinpro/RS
Educação básica | Publicado em 08/01/2013


Com altas taxas de evasão e baixos resultados na última edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o Ensino Médio continua sendo a etapa escolar mais problemática do Brasil. Para sair desse posto, o Ministério da Educação (MEC) propõe mudanças curriculares e enxerga na educação integral – e em tempo integral – uma saída também para esse nível de ensino.

Mas como aumentar a jornada sem repetir a fórmula giz e lousa, da qual os alunos já evadem e, ao mesmo tempo, prepará-los para o mercado de trabalho? Em entrevista ao Portal Aprendiz, a coordenadora-geral do Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do MEC, Sandra Garcia, responde a pergunta. Ela fala ainda sobre o Programa Ensino Médio Inovador, formação inicial e continuada de professores e o Ensino em período Noturno. Confira!

Portal Aprendiz – O MEC propõe uma mudança no currículo do Ensino Médio, com a integração de disciplinas em grandes áreas do conhecimento, inspirado no Enem. Muitos educadores temem, porém, que isso seja uma forma de “enxugar” as disciplinas. Gostaria que você falasse a respeito.

Sandra Garcia – O currículo do Ensino Médio está muito estagnado, não é nem a questão de ter 13 disciplinas, mas de como esses componentes curriculares dialogam. Ciência, tecnologia e cultura têm que estar presentes também em Português, Matemática, Geografia e História. A tecnologia não é específica de uma disciplina técnica, nem a ciência é específica da Química e da Física, e nem a Cultura é só aula de Artes. Não tem como enxugar as disciplinas porque elas são ciências. Mas elas devem estar dentro de áreas de conhecimento, dialogando entre si. Ás vezes há um excesso de conteúdo porque eles se sobrepõem, por isso, esse diálogo tem que existir.

Aprendiz – Como essas mudanças curriculares podem ajudar a manter o interesse do aluno?

Sandra – A relação da teoria com a prática é essencial. O aluno tem que perceber que o conhecimento que ele absorve na escola tem relação direta com o seu dia a dia. O Enem leva a isso a partir do momento que ele trabalha por áreas de conhecimentos – e não, disciplinas – e faz com que o aluno explore seu raciocínio lógico.

Aprendiz – Quase duas mil escolas do país já aderiram ao Programa Ensino Médio Inovador (Pro-EMI), do MEC, que prevê investimentos federais, ampliação da jornada e reestruturação dos currículos. Como o programa dialoga com o Mais Educação, também do governo federal?

Sandra – O Ensino Médio Inovador não tem relação direta com o Mais Educação, mas tem uma perspectiva muito parecida porque também trabalha com macrocampo. Enquanto o Mais Educação já é uma indução à educação integral, com possibilidades de oficinas nos macrocampos, o Ensino Médio Inovador é uma mobilização para a mudança no currículo, expandindo a carga horária gradativamente.

Portal Aprendiz – Como aumentar a jornada sem repetir a fórmula giz e lousa?

Sandra – Quando você aponta macrocampos, eles são mobilizadores do currículo. Cultura Corporal, por exemplo, não é só aula de Educação Física, passa também por Teatro, Cinema, Fotografia e Poesia. Mas tem que ser currículo, se não vai ser escola de contraturno, e não é isso que se propõe. Não é uma escola de manhã mais dura e uma à tarde onde haja diversão, é um currículo que tenha movimento e diálogo.

Aprendiz – Como, então, transformar educação em tempo integral em educação integral?

Sandra – A educação integral pressupõe a formação do sujeito em todas as dimensões. O indivíduo tem que ter a possibilidade de ir ao teatro, cinema e museu; aprofundar o conhecimento em biologia com experimentações; e compreender como o saber científico se traduz em tecnologia. É necessário pensar o território da escola e como ela se relaciona com os equipamentos públicos ao seu entorno, como o posto de saúde e o centro cultural do bairro. É sair dos muros da escola e ter como processo educativo outros espaços que não sejam o da instituição, é o que chamam de cidade educadora. Tudo isso vai fazer com que escola promova de fato a formação integral do sujeito. Quando falamos em tempo integral é para possibilitar que isso aconteça, porque no formato de quatro horas que temos hoje, não cabe mudanças curriculares.

Aprendiz – Durante Seminário na Ação Educativa sobre Educação e Trabalho, você comentou que os governos têm feito muita medida paliativa. Ao que se refere?

Sandra – As ações do governo federal e, principalmente, as dos governos estaduais, que são os responsáveis pelo Ensino Médio, acabam sendo muito específicas e não embarcam todas as problemáticas, seja da formação inicial do professor até as condições da escola para que esse aluno tenha um espaço de ensino e aprendizagem. Essas ações têm que ser articuladas para que elas sejam transformadas em políticas, se não viram medidas paliativas. O programa tem começo, meio e fim, mas temos que avançar para que ele transforme em uma política permanente.

Aprendiz – O que o MEC propõe para o Ensino Médio, enquanto política nacional?

Sandra – Nós queremos que haja um Ensino Médio integral e em tempo integral, na perspectiva de horizonte de futuro, onde esses alunos possam ter uma formação que possibilite que o jovem se insira no mercado de trabalho sem que ele necessariamente tenha que se profissionalizar imediatamente, mas que também possa terminar os seus estudos.

Aprendiz – Uma questão latente no Ensino Médio é essa relação entre educação e trabalho. Como oferecer uma formação para o trabalho que vá além da qualificação profissional?

Sandra – Os jovens precisam se inserir no mundo do trabalho e, nesse processo de travessia, temos que permitir que eles tenham essa formação profissional junto. Só não dá para pensar que vamos universalizar isso, porque se não caímos na Lei 5692, de 1971 [que tornava obrigatória a profissionalização para todo o Ensino Médio], que não deu certo, porque não existia professores e nem infraestrutura adequada. Mas é possível ter uma parte dos jovens fazendo profissionalização. Acho que a melhor possibilidade é o Ensino Médio integrado a Educação Profissional, em que o aluno fica mais do que três anos e faz a formação básica, ao mesmo tempo em que pode se profissionalizar. O trabalho não pode ser tratado na escola somente como uma profissão, é necessário que sejam dadas condições para que esses jovens se insiram no mercado de forma emancipada, com um conhecimento básico bem estruturado que independa se ele vá trabalhar em uma área ou outra.

Aprendiz – Um dos grandes problemas do Ensino Médio ainda é a evasão. Como resolver isso?

Sandra – A evasão é resultado de tudo isso, de uma escola que não dialoga com a juventude e que tem dificuldade para escolher os conteúdos que compõem o currículo. Este é o momento de grande discussão do Ensino Médio, de rever tudo isso e, consequentemente, a questão da reprovação e da evasão. O aluno evade porque a escola não está atendendo o que ele precisa. É obvio que a instituição de ensino também não tem que atender a todas as expectativas do jovem, ela também tem que provocá-lo para que ele veja outros horizontes.

Aprendiz – Outro gargalo é o Ensino Médio no período noturno, o que precisa ser feito para mudar essa situação?

Sandra – Os problemas no Ensino Médio noturno já são muito visíveis, não há nem primeira e nem última aula, não é só problema do aluno, mas também do professor, que normalmente já está em seu terceiro turno de trabalho. O MEC vem discutindo junto com os estados, universidades e sindicatos dos professores algumas alternativas, mas elas não estão ainda finalizadas. Mas há uma preocupação muito grande em relação a isso.

Aprendiz – No que se refere à formação inicial e continuada de professores, que ajustes precisam ser feitos?

Sandra – As nossas universidades já percebem que é preciso chegar mais próximo do Ensino Básico para entender o que é isso e formar um professor que vá realmente dialogar com esses sujeitos. Quando o adulto termina a licenciatura, ele não pode achar que já passou por todo processo formativo, essa é a educação inicial, a formação é contínua. A universidade não pode perder de vista essas pessoas que formou, ela tem que continuar o trabalho com os professores do Ensino Básico. Isso vai possibilitar também que ela reveja seu processo formativo. Uma coisa interessante que vem acontecendo é o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), que é o programa de formação de professores que estão na graduação em uma relação direta com os da Educação Básica. Essa triangulação, professores da escola com os da universidade e com os estudantes da graduação, possibilita uma transformação tanto na formação inicial quanto na continuada.

Com informações de Portal Aprendiz.