Boa formação de docente pode fazer aluno aprender 70% a mais

a mais se exposto a bons Professores, revelam dados do trabalho feito pelo Instituto Ayrton Senna, com The Boston Consulting Group.

Comunicação Sinpro/RS
Estudantes | Publicado em 23/07/2014


A formação continuada é tão importante para a melhoria da qualidade das aulas – e para o aprendizado –, que um Aluno pode aprender de 47% a 70% a mais se exposto a bons Professores, revelam dados do trabalho feito pelo Instituto Ayrton Senna, com The Boston Consulting Group. Os bons resultados, segundo especialistas, não dependem de mais horas de curso, mas da qualidade dos treinamentos.

Segundo a diretora de Educação da Fundação Itaú Social, Patrícia Mota Guedes, formações em campo dentro da sala de aula são as que renderam mais frutos. “Isso provocou discussões porque as estratégias mais tradicionais tiravam o Professor da sala de aula, para palestras e conferências”, afirma. Depois do nível socioeconômico e a Escolaridade da mãe, a qualidade do Professor é o fator que mais afeta o desempenho da classe, diz Patrícia. “Conseguimos ver essa diferença em Escolas da mesma área, com o mesmo perfil de Alunos, mas que têm resultados diferentes. Se olhar de perto, aquela Escola onde os Professores usam melhores práticas tem um desempenho melhor.”

Outro desafio para turbinar a formação continuada é diminuir a resistência dos profissionais da Educação, que temem perda de autonomia. “É preciso mudar a cultura. O Professor ainda resiste a expor o que acontece em sala de aula”, explica Cláudio Oliveira, diretor do Instituto Singularidades, voltado para a formação Docente. “O paradigma mudou. O bom Professor hoje deve trabalhar na lógica de colaboração para tornar a classe mais atrativa”, defende. Partilha de experiências.

A colaboração entre Docentes faz parte da receita de sucesso da rede de Ensino de Sobral, no interior cearense, outro exemplo citado no estudo. “No início havia resistência, mas depois os próprios Professores viram que as formações eram positivas e eles ainda poderiam compartilhar as melhores práticas”, conta Júlio César da Costa, secretário municipal de Educação. Iniciada há 14 anos, a reforma educacional no município alavancou a aprendizagem dos Alunos no Ensino fundamental e inspirou programas federais na área.

Para a capacitação, Sobral montou uma Escola própria de formação do magistério, que oferece cursos que aperfeiçoa ma didática e a bagagem sociocultural dos Professores. “Também faza diferença o acompanhamento na Escola, de perto”, afirma o secretário. “Damos gratificação aos Professores que superam as metas, mas vemos que não é isso que mais os motiva”, diz. Até a escolha dos materiais didáticos, feita de acordo com a realidade de cada Escola ou classe, também influencia os treinamentos.“O material didático deve se adequar às ações propostas e é a base dessa formação. Com isso, o Professor tem condições de preparar seu plano de aula”, descreve.

Curso para aperfeiçoar professor tem baixa eficácia
A maioria das atividades de formação continuada com professores no Brasil (70%) tem baixa eficácia, segundo estudo do Instituto Ayrton Senna (IAS) com The Boston Consulting Group (BCG). Cursos de aperfeiçoamento, diz a pesquisa, são uma das principais alavancas para melhorar o desempenho de docentes e alunos.

A divulgação do levantamento, realizado com cerca de 3 mil professores, gestores e especialistas brasileiros, será feita hoje em São Paulo e deve ter a presença do ministro da Educação, Henrique Paim.

Esse tipo de formação, voltada a professores que já começaram a lecionar, enfrenta dificuldades para deslocar o foco da teoria para questões reais da sala de aula. Além do déficit de docentes no País, a maioria das redes não tem programas estruturados de formação continuada.

Tutoria com professores mais experientes, formação de ingressantes na carreira e observação crítica da sala de aula estão entre as atividades com melhores resultados, na opinião de especialistas e dos próprios docentes. O estudo revelou, entretanto, que elas são as que menos aparecem no País.

Segundo a analista de projetos de Educação e Desenvolvimento do IAS, Daniela Arai, o Brasil é um dos que menos incentivam professores a fazer formação continuada. Ela explica que ações governamentais de curto prazo e alta visibilidade são as mais frequentes, comprometendo um planejamento adequado dos programas. “Formação de professores é investimento de longo prazo. Acaba não sendo a principal preocupação dos governantes”, avalia.

Além da preferência por ações de curto prazo e visibilidade, o estudo menciona cinco principais obstáculos para o êxito da formação continuada. Também pesam a carência de incentivos formais, a escassez de tempo, lacunas e baixa aplicabilidade do conteúdo das ações oferecidas, falta de alinhamento das ações com o plano de carreira do magistério e alta rotatividade do corpo docente.

Com a função de “tapar buracos” da formação original, é para os recém-chegados à sala de aula que as ações podem ser mais efetivas. Não só para ensinar melhores práticas, como manter o interesse no ensino. Segundo Daniela, as redes que trabalharam com ingressantes, em residências e tutorias tiveram impactos significativos.

Experiências
Um dos bons exemplos citados no estudo foi o da rede estadual de Goiás, que em 2011 implementou um programa de tutoria de coordenadores pedagógicos. Com o sucesso da ação, estenderam a proposta para professores de Matemática e Língua Portuguesa do ensino fundamental 2 (6.º ao 9.º ano) e médio, com apoio diário de professores mais experientes. A atividade melhorou os índices de aprendizagem dos alunos entre 2011 e 2013.

“Vale a pena tirar da sala de aula esse ótimo professor. Ele vai acompanhar dez, 15 professores e influenciar mais alunos. Ele é a referência e tem legitimidade para influenciar os pares”, explica Ralph Gomes Alves, da Superintendência de Inteligência Pedagógica e Formação da rede goiana.

A professora Núbia Oliveira, tutora diária de Matemática, está em treinamento para a função desde 2011 e acompanha professores de seis escolas de Goiás. No início, ela encontrou receio dos professores para atividades, como a observação de aulas. Mas hoje, com o amadurecimento do projeto, há professores de outras disciplinas ou etapas do ensino que a procuram por ajuda.

“Um dos primeiros pontos de dificuldade é que o professor não sabe planejar”, aponta Núbia, que dá aulas há 18 anos. “Ele foi preparado para uma sala homogênea, mas na execução encontra salas lotadas, alunos com muitas dificuldades.” No caso dos docentes antigos, o desafio é maior. “É difícil mudar uma mentalidade errada mantida por anos.” Entre as atividades desenvolvidas na formação, estão a escuta ativa, em que se ouve demandas de professores para cada tipo de sala de aula, e o acompanhamento in loco.

Com informações de Estadão.