Pesquisa mostra que não falta professor, mas interesse de seguir a carreira
É o que revela a pesquisa inédita do Professor José Marcelino de Rezende Pinto, da USP.Faltam , portanto , profissionais interessados em seguir carreira dentro de sala de aula.
Comunicação Sinpro/RS
Professores | Publicado em 09/10/2014
Apesar de haver Escolas sem Professores no Brasil, o número de licenciados entre 1990 e 2010 seria suficiente para atender à demanda atual por Docentes. É o que revela a pesquisa inédita do Professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Universidade de São Paulo (USP). Faltam, portanto, profissionais interessados em seguir carreira dentro da sala de aula.
O estudo aponta para a necessidade de tornar a profissão mais atrativa e de incentivar a permanência estudantil na área. Isso porque o número total de vagas na graduação é três vezes maior que a demanda por Professores estimada nas disciplinas da Educação básica (mais informações nesta página). Em todas as áreas, só as vagas de graduação nas universidades públicas já seriam suficientes para atender à demanda.
Para realizar a pesquisa, o autor cruzou a demanda atual por profissionais na Educação básica com o número de formados nas diferentes disciplinas curriculares entre 1990 e 2010. Assim,apenas em Física é possível afirmar de fato que o número de formandos não é suficiente para suprir a necessidade. Segundo Marcelino, os titulados preferem ir para outras áreas a seguir a docência. “A grande atratividade de uma carreira é o salário. Mas, além da remuneração, o Professor tem um grau de desgaste no exercício profissional muito grande. E isso espanta”, afirma o pesquisador, que é da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto.
Os cursos de formação de Professores têm evasão maior que 30%, acima da média registrada por outras graduações. “Em vez de financiar novas vagas, muitas vezes em modalidade a distância sem qualidade, precisamos investir para que o Aluno entre e conclua.” Dados recentes mostram que há um déficit nas Escolas brasileiras de 170 mil Professores apenas nas áreas de Matemática, Física e Química. Só na rede estadual de São Paulo, 21% dos cargos necessários estavam vagos no ano passado, como revelou o Estado na ocasião.
A maior lacuna era em Matemática e Português, esse último com falta de 7,1 mil Docentes – o governo do Estado afirma que os Alunos não ficam sem aula, mesmo que acompanhados por Professores de outras formações. Em Língua Portuguesa, a pesquisa revela um dos maiores abismos. O número de concluintes entre 1990 e 2010, de 325 mil, é quase três vezes maior que a demanda calculada, em torno de 131 mil.
Só três disciplinas aparecem com razão negativa entre concluintes e demanda: Ciências, Língua Estrangeira e a já citada Física (veja o infográfico ao lado). Nas duas primeiras, os dados não refletem algumas condições: a área de Língua Estrangeira é atendida por formados em Letras, que tem alto índice de estudantes, e muitos Professores de Ciências têm formação em Biologia – que tem a maior proporção de concluintes.
Ganho.O salário de um Professor é, em média, 40% menor que o de um profissional de formação superior. Foi essa diferença de renda que fez Simone Ricobom, de 40 anos, deixar a docência em 1998 – após cinco anos na área – para trabalhar na Previdência Social. “Havia o pensamento de que o Professor tinha de ser um pouco mãe e eu queria ser profissional. Também percebi que não havia projeção na carreira.” Ela voltou a atuar na Educação infantil entre 2008 e 2012, dessa vez na rede particular, mas se decepcionou novamente.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, diz que o resultado da pesquisa desconstrói um falso consenso sobre um “apagão”. “Os dados reforçam que a principal agenda na questão Docente é a da valorização”, diz. “Valorização é garantia de boa formação inicial e continuada, salário inicial atraente, política de carreira motivadora e boas condições de trabalho.”
Mínimo de 30%. Deliberação de 2014 do Conselho Estadual de Educação de São Paulo exige que as instituições de ensino superior sob sua responsabilidade, que incluem as estaduais (USP, Unicamp e Unesp) e fundações municipais, deverão oferecer nos cursos de formação de professores o mínimo de 30% da carga horária de conteúdo didático-pedagógico.
O documento ainda exige que cursos deem atenção a atividades práticas. O texto atual altera dispositivos de deliberação similar redigida em 2012. As instituições teriam até o ano passado para realizar as mudanças. Como cabe ao conselho aprovar o reconhecimento dos cursos, as estaduais conseguiram renovação temporária de um ano e depois devem se adequar.
Com informações de O Estado de S. Paulo.