Pesquisa revela dados da saúde mental dos professores do ensino privado
Comunicação Sinpro/RS
Pesquisa | Publicado em 16/12/2016
O Sinpro/RS, Sinpro/Caxias, Sinpro Noroeste e FeteeSul estão lançando a cartilha “Saúde/adoecimento mental dos professores da rede privada de ensino do Rio Grande do Sul – como avaliar e cuidar”. O objetivo da cartilha é auxiliar os professores na identificação do adoecimento mental e também na promoção da saúde mental relacionada ao trabalho. A ideia surgiu a partir de uma pesquisa que investigou como o contexto de trabalho está influenciando na saúde/adoecimento mental dos professores da rede privada de ensino do Rio Grande do Sul.
A publicação foi coordenada pela Profa. Dra. Janine Kieling Monteiro, da Pós-Graduação dos cursos de Pisicologia da Unisinos, e alunos vinculados ao Laboratório de Psicologia Clínica do Trabalho (LABORClínica). A pesquisa iniciou em 2015, motivada pela necessidade de avaliar o índice expressivo de afastamentos por motivo de adoecimento mental relacionado ao trabalho do professor no ensino privado — em 2013, 17% do número total de afastamentos do trabalho entre os docentes do ensino privado, na região Sul do Brasil, foi motivado por adoecimento mental (Síntese/Dataprev, 2014).
Resultados mais significativos
Participaram 740 professores, sendo que a maioria é do sexo feminino (70,1%), casada ou em união estável (66,4%) e com filhos (60,7%). A idade dos participantes vai de 18 a 72 anos. O tempo de exercício profissional é de 1 a 52 anos, com a média em 15 anos. O tempo de trabalho na atual instituição em que lecionam vai de 1 a 43 anos com média de 10 anos. A média de trabalho semanal ficou em 29 horas, sendo que varia entre 4 e 60 horas. A renda mensal que obteve maior proporção na amostra foi de 1 a 3 salários mínimos (26,9%), seguido de 5 a 8 salários mínimos (26,2%).
Um dos itens abordados na pesquisa foi a Organização do Trabalho, compreendendo práticas de gestão, divisão do trabalho, produtividade esperada, prazos e características das tarefas. Dos professores que participaram, 32,1 % avaliaram o contexto de trabalho como GRAVE, 58,5% como CRÍTICO e apenas 9,4% como SATISFATÓRIO. A questão pior avaliada foi a cobrança por resultados.
Sobre as Relações Socioprofissionais, compreendendo as interações sociais no ambiente de trabalho, relações com chefias, relações coletivas (equipe e de outros grupos de trabalho) e relações externas (alunos e pais), os professores participantes têm a seguinte percepção: 27,7 % avaliaram como GRAVE, 47,3% como CRÍTICA e 25% como SATISFATÓRIA. A questão pior avaliada foi disputas profissionais no local de trabalho.
Na abordagem das Condições de Trabalho, observando a infraestrutura do local, equipamentos, instrumentos e matéria-prima disponíveis para execução das atividades, os resultados foram coerentes com as boas estruturas das instituições de ensino privado: 60,6% avaliaram como SATISFATÓRIA, 32,1% como CRÍTICA e 8,9% como GRAVE. A questão pior avaliada foi o barulho no ambiente de trabalho.
A pesquisa avaliou a presença de DPM ou Transtornos Mentais Comuns: sintomas não psicóticos aos quais pessoas estão expostas, como, insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas. Dos professores que participaram, 55% apresentam DPM.
A ocorrência de Depressão foi averiguada na pesquisa e 35,2% dos professores que participaram apresentam depressão de leve a severa.
Conforme a Profa. Dra. Janine Kieling Monteiro, coordenadora da pesquisa, na associação entre as variáveis estudadas, destaca-se que “ter menos Saúde Mental, ter Relações Socioprofissionais menos satisfatórias, ter menor renda mensal, ter uma Organização do Trabalho menos satisfatória e atuar nos níveis de ensino Infantil e Fundamental aumenta o risco para desenvolver DPM (Transtornos mentais Comuns)”.
A pesquisadora alerta que os resultados relativos à Saúde/Adoecimento Mental dos professores da rede privada do RS são preocupantes e requerem atenção, pois as prevalências de DPM e de Depressão encontradas no grupo estudado são elevadas e superiores a de outros estudos.
A pesquisa foi realizada em parceria entre a UNISINOS, Núcleo da Saúde do Professor, Federação dos trabalhadores dos estabelecimentos de ensino privado do RS (FeteeSul), Sinpro/Caxias, Sinpro/RS e Sinpro/Noroeste. O trabalho adotou todos os procedimentos éticos para pesquisas com seres humanos.
Os dados da pesquisa servirão de base para a elaboração de políticas públicas e ações específicas das entidades que trabalham na valorização docente, buscando a melhoria nas condições de trabalho.
Etapas da pesquisa
A pesquisa A Saúde/Adoecimento Mental dos Professores da Rede Privada de Ensino do Rio Grande do Sul foi realizada em três etapas: documental, quantitativa e qualitativa.
Na etapa documental foram analisados os afastamentos do INSS de 2009 a 2013 concedidos professores do ensino privado no RS. Ficou demonstrado que a doença com maior prevalência entre os casos de afastamentos de professores foi a depressão (12%), sendo que o nível de ensino com maior índice de afastamentos por esse motivo foi o superior.
Da etapa quantitativa, participaram 740 professores da rede privada, pertencentes a quatro grupos de ensino: infantil, fundamental, ensino médio e ensino Superior. Foi utilizado um questionário online e outro via correio. Os resultados estão abaixo.
A etapa qualitativa envolveu a coleta de entrevistas aprofundadas com 21 professores divididos em dois grupos (nove com sintomas de adoecimento mental e 12 sem sintomas de adoecimento mental), selecionados a partir das etapas anteriores. A análise de conteúdo dos dados qualitativos ainda será realizada e constará no livro que será publicado em 2017, com os resultados gerais da pesquisa.