Por que a Palestina diz respeito ao mundo inteiro

Os sindicatos filiados a CUT organizaram um coletivo de comunicação para fazer a cobertura jornalística do Fórum

Comunicação Sinpro/RS
Debate | Publicado em 29/11/2012


Cobertura especial
Fórum Social Mundial Palestina Livre
Os sindicatos filiados a CUT organizaram um coletivo de comunicação para fazer a cobertura jornalística do Fórum, que iniciou hoje, 29, e se estende até 1º de dezembro. Neste espaço, publicaremos as reportagens produzidas pela equipe do jornal Extra Classe, com o apoio do Sinpro/RS e da Fetee/Sul.

Por que a Palestina diz respeito ao mundo inteiro
Marco Aurélio Weissheimer, jornal Extra Classe

29 de novembro é o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Neste dia, ativistas de vários países do mundo abriram em Porto Alegre os debates do Fórum Social Mundial Palestina Livre, que se estenderá até 1º de dezembro. Neste dia também, a Organização das Nações Unidas votará a proposta de reconhecimento da Palestina como Estado observador. Solidariedade e apoio internacional: em todos os significados desse dia 29 de novembro, essas são as palavras chaves na luta do povo palestino, que vive há décadas sob a ocupação israelense. “É um dia muito importante, onde o Brasil e outros 12 países latino-americanos reafirmaram sua posição pelo reconhecimento do Estado da Palestina”, comemorou Nabil Shaat, enviado especial do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, ao Fórum de Porto Alegre, que deve reunir mais de 100 organizações de mais de 20 países para discutir a situação do povo palestino.

A capital gaúcha, mais uma vez, abre-se para acolher e debater um dos mais urgentes temas mundiais. A mesa de abertura do Fórum Social Mundial Palestina Livre tratou dessa urgência e apresentou, com diferentes ênfases, o caráter internacional dessa luta. Direito internacional, direitos humanos e julgamento de crimes de guerra foi o tema do painel realizado na manhã desta quinta-feira (29), no Salão de Festas da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nabil Shaat agradeceu o apoio e a iniciativa da realização do Fórum. “Isso dá um grande dinamismo para a nossa luta. Neste exato momento, o presidente Abbas está falando com a ONU, solicitando o reconhecimento do Estado da Palestina. E vocês são os representantes mais inclusivos da humanidade, representantes da sociedade civil, de movimentos sociais, que são fundamentais para fortalecer a mobilização internacional em favor da Palestina”, disse o ex-ministro de Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina.

“Somos um povo com terra e água roubada”
O que está em jogo, destacou ainda Shaat, não é o direito internacional e suas leis, mas sim a implementação desse direito e dessas leis. “O direito internacional reconhece nossos direitos. Mas sem sua implementação efetiva não haverá justiça na Palestina. Em 1969, queríamos estabelecer um país de um modo muito parecido com o que Mandela fez na África do Sul. Depois, em 1988, aceitamos dividir nosso país em duas partes. Mesmo assim, de lá para cá, a situação não evoluiu. Somos um país sob ocupação”, resumiu o enviado da Autoridade Nacional Palestina. Essa ocupação tem números eloquentes: hoje há quase 700 mil colonos israelenses instalados em terras palestinas. Além de ocupar a terra, essa população consome oito vezes mais água do que a média dos palestinos. “Somos um povo com terra e água roubada. Não podemos andar livremente em nossas estradas”, relatou ainda Nabil Shaat.

O representante palestino deixou um recado claro: “Nós não vamos voltar às negociações sem que os israelenses comecem a cumprir o que já acordaram em 1988. Além de não cumprirem esses acordos, seguem explorando nossa terra e nossa água e trazendo cada vez mais ocupantes. Precisamos da ajuda de todos vocês para uma ação internacional de boicote e pressão. Eu seria a pessoa mais feliz do mundo se Lula liderasse uma comissão internacional para apoiar essa luta”, sugeriu Shaat, arrancando aplausos do público. E acrescentou: “o problema do povo palestino é que nós nunca desistimos. Temos essa doença crônica chamada esperança”.

“A Palestina é a questão número um do Oriente Médio”
O sentido da mobilização internacional de apoio e solidariedade à causa palestina foi sintetizado pelo embaixador brasileiro Arnaldo Carrilho, primeiro representante da diplomacia brasileira junto à Autoridade Nacional Palestina. “O problema da Palestina não é uma questão nacional, mas sim um tema mundial, um tema relacionado à paz mundial. Às vezes chego ao exagero de imaginar que uma nova guerra mundial começaria justamente no Oriente Médio. E a Palestina é a questão número um no Oriente Médio”, enfatizou o diplomata.

Nasser Al Reyes reforçou essa abordagem assinalando alguns dos principais crimes que estão sendo cometidos contra o povo palestino. “Onde existe ocupação, não existem direitos nem dignidade humana. O governo israelense incentiva seus soldados a matar palestinos. Um dos rabinos mais importantes de Israel chamou os palestinos de insetos. Há leis que autorizam o assassinato e o uso da tortura para obter informações de palestinos. Além disso há a violação do direito à moradia. Para cada cinco pessoas na Cirjordânia hoje, há um colono ocupante apoiado pelo Estado israelense. E esses colonos estão começando a formar milícias privadas para ocupar a Cisjordânia”.

O muro construído por Israel, acrescentou Reyes, dividiu o povo palestino em quatro locais diferentes. “Hoje os palestinos vivem em cantões, separados uns dos outros, como se fosse um apartheid. Muitas casas foram e continuam sendo destruídas nas áreas ocupadas. O projeto colonizador de Israel na região é claro e só vem aumentando. A Cisjordânia está sendo ocupada gradualmente e a população palestina submetida a todo tipo de violação. Israel está violando todos os princípios da Convenção de Genebra”.

O que é preciso fazer?
Os relatos do painel da manhã desta quinta-feira vieram acompanhados de uma pergunta: diante desse quadro, o que é preciso fazer? Reyes resumiu a resposta assim: “Essa é uma oportunidade histórica. Precisamos buscar instrumentos para sair do discurso de condenação simplesmente e mobilizar a comunidade internacional. É preciso também não reconhecer nenhuma mudança no território palestino praticada por Israel a partir de 1967, julgar os autores de crimes de guerra e promover o boicote aos produtos de empresas israelenses e às entidades e instituições que apoiem essas práticas criminosas”.

O Fórum Social Mundial Palestina Livre é promovido por um comitê formado por 36 entidades, sindicatos e Organizações Não-Governamentais e tem o apoio da Assessoria de Cooperação e Relações Internacionais do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Além de manifestar solidariedade à luta do povo palestino, o encontro pretende criar ações efetivas para assegurar a autodeterminação de palestinas e palestinos, a constituição de um Estado palestino com Jerusalém como capital e o respeito aos direitos humanos e à lei internacional.

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